O SALÃO DE BAILE ELÉTRICO
de Enda Walsh
Tragicomédia em tom de fábula escrita pelo dramaturgo irlandês Enda Walsh. Estreou em 2012 no Teatro Cultura Inglesa de Pinheiros, cumprindo em seguida uma temporada no SESC Pinheiros e outra no ECUM, seguindo em viagens pelo interior do estado.
Duas irmãs sexagenárias permanecem confinadas em sua juventude, na década de 50, enveredando em um jogo de humor, crueldade e nostalgia. A mais nova age como um sádico diretor, obrigando-as a reviverem essas memórias e se vestirem com as espalhafatosas roupas de baile. Elas recebem constantemente a visita de um peixeiro, encarregado de trazer as notícias da cidade, e que diz não servir para muita coisa. A montagem integrou o Cultura Inglesa Festival.
“O Salão de Baile Elétrico” é uma fábula recheada de humor, crueldade e nostalgia, escrita pelo irlandês Enda Walsh, autor várias vezes premiado e celebrado por seus radicais jogos de palavras e pela universalidade de sua obra, e pelo poder absolutamente visceral de interpretação que suas peças permitem.
Breda e Clara são duas senhoras sexagenárias, irmãs que se vêm confinadas desde os memoráveis dias do “Salão de Baile Elétrico”, a remota possibilidade de felicidade da sua juventude nos anos 50.
Obcecadas pela reconstituição daquelas obscuras memórias, alternam-‐se em vestir uma à outra com a surreal e espalhafatosa roupa do baile dos seus dezessete anos, trazendo diferentes perspectivas da noite em que sua esperança de amor foi destruída por um cantor extremamente sedutor a la Elvis Presley.
Com quase 20 anos a menos, Ada não conseguiu escapar aos efeitos da trágica história das mais velhas e age como um sádico mestre de cena. Dando austeras instruções, ela controla cuidadosamente a trilha sonora do passado com um gravador de rolo.
A becketiana existência enclausurada das irmãs é rompida pela entrada de Patsy, o peixeiro, que anseia por um convite a participar, mas a quem é terminantemente proibido ultrapassar a barreira da entrada.
Ele se auto denomina “um homem que não serve para nada”, mas tem o potencial de trazer Ada para o momento presente. Seus solilóquios a princípio cômicos capturam um senso de solidão abissal, que ecoa na dissertação em que Breda diz que “não queremos ser sós mas somos sós”.
Enquanto as bizarras performances se repetem, há a possibilidade de um consolo, não apenas no chá com bolo pelo qual Clara suplica, mas na calada aceitação de que “todos temos nossos papéis”, e é assim que vivemos.
"Chega a causar certa vertigem os longos solilóquios, repletos de detalhes, que são disparados num ritmo que só preserva espaços para a respiração necessária para que os atores de "O Salão de Baile Elétrico", em cartaz apenas às sextas e sábados no Auditório SESC Pinheiros, consigam transmitir claramente as palavras criadas por Enda Walsh. Ao dirigir com a simplicidade desejável para dar à luz a poesia do texto interpretada com talento indiscutível, Cristina Cavalcanti desnuda o desespero ansioso do porvir incerto.
São três irmãs que dividem o mesmo teto, sendo que as duas mais velhas – Breda (Angela Barros) e Clara (Lilian Blanc), ambas em interpretações viscerais, a sobrevoar entre o drama, o patético, a volúpia, entre outras paixões, com vigor e talento compartilham o trauma da frustração de um relacionamento amoroso não efetivado. O medo ou covardia faz com que ambas permaneçam confinadas na casa revivendo os fatos ocorridos no baile elétrico que motivou suas exclusões do convívio com o tempo real que são compartilhados com Ada (Andréa Tedesco, em excelente interpretação).
Essa prisão ao plano da memória que, fica evidente, é o jogo cotidiano das duas – contar e recontar os últimos instantes que a levaram ao trauma de não consumarem suas iniciações sexuais e amorosas -, a forma de evocarem suas recordações, do gozo ao convencimento de que banir-se da possibilidade de se colocar à mercê da possível rejeição justifica suas exclusões do convívio social, é quebrada pelas frequentes visitas de Patsy (o impecável Edu Guimarães), um peixeiro falastrão e, também, ansioso.
O que era tarefa da irmã 20 anos mais jovem, Ada, o relato informativo do mundo exterior, ganha contornos menos formais com a interferência de Patsy e quebra o clima onírico da representação evocativa de Brenda e Clara à princípio incomodam as irmãs, mas, depois, acaba sendo a esperança de redenção, com a aproximação romântica entre Ada e o peixeiro. Se o final será feliz? Deixo ao leitor desse texto que confira esse instigante O Salão de Baile Elétrico. Só adianto que há mais que a nostalgia de uma época: a peça parece um instantâneo de nossos dias, onde a realidade fria e onírica das relações virtuais que, aparentemente. nos priva de decepções futuras, nos torna autoexilados dos reais desejos."
Michel Fernandes, para Aplauso Brasil
FICHA TÉCNICA
texto de Enda Walsh
direção e tradução Cristina Cavalcanti
elenco Andrea Tedesco
Ângela Barros
Eduardo Guimarães
Lilian Blanc
cenografia e figurinos Chris Aizner
iluminação Miló Martins
trilha sonora Eduardo Agni
produção executiva Adriana Florence
assessoria de imprensa Ofício das Letras
produção Leopoldo de Léo Júnior
realização Visceral Companhia
TEASER
GALERIA
Fotos de Lígia Jardim.